O que é monotropismo?

Monotropismo é uma teoria do autismo que foi desenvolvida primeiramente pelos autistas Dinah Murray e Wenn Lawson. Dinah e Wenn formularam independentemente as ideias-chave do monotropismo, depois trabalharam juntos por anos desenvolvendo, explicando e aplicando a teoria. O trabalho deles ajudou as pessoas a entender o autismo e como ele se manifesta em si mesmas e nos outros.

Há um excelente site, Monotropism, que fornece informações extensas sobre esse assunto.

Fergus Murray, filho de Dinah, explica o monotropismo assim:

Acredito que a melhor maneira de entender mentes autistas é em termos de um estilo de pensamento que tende a concentrar recursos em alguns interesses e preocupações a qualquer momento, em vez de distribuí-los amplamente. Esse estilo de processamento, o monotropismo, explica muitas características da experiência autista que podem parecer inicialmente intrigantes e mostra como elas estão conectadas.

Em poucas palavras, o monotropismo é a tendência de nossos interesses nos atrairem mais fortemente do que a maioria das pessoas. Ele se baseia em um modelo da mente como um "sistema de interesses": todos nós estamos interessados em muitas coisas, e nossos interesses ajudam a direcionar nossa atenção. Diferentes interesses são salientes em momentos diferentes. Em uma mente monotrópica, menos interesses tendem a ser despertados a qualquer momento e atraem mais de nossos recursos de processamento, tornando mais difícil lidar com coisas fora do nosso túnel de atenção atual.

A compreensão do monotropismo ajuda a reformular nossa percepção de interesses e a ver a busca e o engajamento neles como uma força. Lembre-se – interesses são motivadores, envolventes, iniciadores de conversas, construtores de amizades, desenvolvem habilidades, são empregáveis, significativos, calmantes, estimulantes e expansíveis. Ser capaz de perseguir interesses e atividades agradáveis acrescenta significado e prazer à vida de uma pessoa, o que, por sua vez, apoia a felicidade e o bem-estar.

Alguns pontos importantes sobre o monotropismo

(do artigo de Fergus Murray – Eu e o monotropismo: uma teoria unificada do autismo, The British Psychological Association)

Fergus Murray pega as principais características do autismo para fornecer uma explicação de como o monotropismo se parece dentro de cada uma dessas características.

Inércia autista – Esta é a tendência que as pessoas autistas têm de querer permanecer em um estado constante. Por quê? Porque pode causar desconforto quando interrompidas ou tendo que mudar de planos. A mente monotrópica puxa muitos recursos de processamento para um interesse, dificultando a mudança de rumo e voltando a atenção para outra coisa.

Diferenças sensoriais – É mais fácil processar uma coisa de cada vez do que ter que distribuir a atenção em várias áreas. O pensamento monotrópico concentra os recursos em um só lugar, em vez de em outras coisas que podem estar ocorrendo ao mesmo tempo. Pense em quão movimentada uma sala de aula, restaurante ou local de trabalho pode ser – ambientes desgastantes para pensadores monotrópicos.

O monotropismo pode impactar situações sociais porque se a atenção estiver focada em outro lugar, a entrada auditiva pode não ser registrada ou ser ignorada. Fergus afirma:

Nossos cérebros jogam muitos recursos em qualquer coisa em que estejamos focados, o que é responsável pela intensidade da consciência e pela dor de estímulos distrativos que não conseguimos filtrar. Provavelmente há um aspecto de desenvolvimento nisso: as vias neurais que recebem muita estimulação ficam mais fortes, então talvez pessoas autistas sejam propensas a hipersensibilidade de longo prazo em sentidos que recebem atenção intensa e hiposensibilidade em canais que regularmente desligamos.

Quando a sobrecarga sensorial acontece, pode ajudar ter uma entrada previsível, como estímulos (balançar, bater palmas ou vocalizar). O estímulo pode facilitar a filtragem da entrada sensorial, o foco em outra coisa ou lidar com sentimentos avassaladores.

Diferenças sociais – Pessoas autistas precisam de mais tempo de processamento, o que pode dificultar as situações sociais devido a múltiplas entradas por meio da fala, linguagem corporal e contato visual. A conversa envolve trocas de ida e volta e a captação de todos os tipos de informações, tanto interna quanto externamente. O pensamento monotrópico espera que uma coisa siga diretamente de outra, mas a conversa tende a não funcionar dessa forma. Meu colega autista, John Simpson, costumava me dizer que não tinha ideia do que eu diria em seguida quando conversávamos.

O pesquisador autista Damien Milton fala sobre o problema da dupla empatia que também entra em jogo em situações sociais. Isso significa que a quebra de comunicação entre pessoas autistas e não autistas é uma questão de mão dupla, causada pelas dificuldades de ambas as partes em entender. Não é uma via de mão única com o ônus de entender o contexto e o significado na pessoa autista.

O foco autista pode significar que coisas são perdidas que são registradas para outras pessoas. Se o poder de processamento e a atenção estão focados em uma coisa, é difícil ser capaz de processar vários fluxos de entrada que estão chegando ao mesmo tempo. As interações sociais são tão complexas!

Interesses e paixões – No DSM V, um dos critérios diagnósticos para autismo são interesses restritos ou repetitivos. Na realidade, o que realmente está acontecendo é que há um foco intenso em um interesse. Não importa quem você seja, envolver-se em um interesse é repetitivo. Tenho um interesse intenso em patinação artística e trabalho nas mesmas habilidades e padrões repetidamente em minhas sessões de prática. Nunca fico entediado. Também não consigo pensar em mais nada quando estou patinando. Exige 100% da minha atenção e acho difícil trabalhar em padrões e falar ao mesmo tempo.

Interesses são definidos como repetitivos ou restritos por causa do que esses interesses são - nós os julgamos como observadores. Interesses podem mudar ao longo dos anos, mas muitos permanecem os mesmos desde a infância. Meu filho sempre amou Thomas the Tank Engine e ainda ama. Ele tem um tempo com Thomas todos os dias e geralmente carrega um trem com ele em sua mochila ou bolso. Ao longo dos anos, ele expandiu esse interesse para outros tipos de trens e meios de transporte. Transporte subterrâneo ou transporte ferroviário leve são suas maneiras favoritas de se locomover pela cidade.

Minha filha autista é apaixonada por marionetes. Por meio de suas aulas e prática, ela conseguiu expandir sua capacidade de conversar e entender emoções. Ela é capaz de usar mais gestos não verbais em sua própria comunicação para transmitir sentimentos.

Existem muitos campos de estudo que exigem um foco intenso para serem bem-sucedidos — ciência, tecnologia, matemática e artes, para citar alguns. Fergus diz: "Pode ser difícil pensar em qualquer outra coisa quando estamos particularmente envolvidos em um tópico, e difícil imaginar o quão pouco outras pessoas podem se importar com isso." Precisamos ver esse foco como um trunfo e tentar incorporar os interesses de uma pessoa da melhor forma possível, em vez de trabalhar contra isso.

Seguindo em frente, apoiando interesses

Reformule como você pensa sobre os interesses de uma pessoa autista e veja-os como pontos fortes que podem ser expandidos e desenvolvidos.

Envolver-se em interesses pode criar um estado de fluxo. Se você é novo neste termo, o pesquisador Mihaly Csikszentmihalyi descreve o estado de fluxo como um estado mental de operação em que uma pessoa está totalmente imersa em uma atividade, caracterizada por um sentimento de foco energizado, envolvimento total e prazer no processo da atividade. Veja isso como uma ótima maneira de ser!

Os humanos precisam de estabilidade e previsibilidade em suas vidas. Para se sentirem seguros e protegidos, as pessoas autistas podem se envolver no que parece ser comportamentos restritos e repetitivos. Esses comportamentos podem ajudar uma pessoa a se sentir no controle, minimizar a carga mental, lidar com mudanças e aliviar o estresse e a ansiedade. As rotinas promovem previsibilidade e estabilidade e são uma parte importante da vida diária.

A individualidade do autismo pode ser devido a diferentes graus de monotropismo. Fergus afirma eloquentemente:

No entanto, a característica é distribuída, a implicação é que algumas pessoas estão mais próximas de ter mentes autistas do que outras sem se qualificarem como autistas, e algumas pessoas autistas têm mentes mais atípicas do que outras em termos de monotropismo. Isso não torna o espectro linear: há tantas maneiras diferentes de o autismo se manifestar, e tantas condições concomitantes, que nenhuma variável pode chegar perto de capturar todas elas.